Acervo Ubaldino Gusmão Figueira

Ubaldino Gusmão Figueira (1907- 1969). Ubaldino Gusmão Figueira nasceu em Vitória da Conquista, Bahia no dia 04 de outubro de 1907. Filho de Virgílio Manuel Figueira e Maria Gusmão Figueira. Médico cirurgião formou-se em 1932 pela Faculdade de Medicina de Minas Gerais. Escreveu ensaios sobre política e saúde pública, era poeta, orador e garimpeiro. Protestante, membro fundador da 2ª Igreja Batista de Vitória da Conquista. Médico muito competente e dentre os seus feitos na área da medicina destaca-se a autocirurgia de apêndice, realizada em 05 de fevereiro de 1942 na cidade de Patos, Minas Gerais.

BIOGRAFIA DE UBALDINO GUSMÃO FIGUEIRA RECONTADA POR SUA FILHA HELEUSA FIGUEIRA CÂMARA


Ubaldino Gusmão Figueira (1907- 1969). Ubaldino Gusmão Figueira nasceu em Vitória da Conquista, Bahia no dia 04 de outubro de 1907. Filho de Virgílio Manuel Figueira e Maria Gusmão Figueira. Médico cirurgião formou-se em 1932 pela Faculdade de Medicina de Minas Gerais. Casou-se com Maria Stella de Moraes em 05 de junho de 1934 e tiveram cinco filhas: Helena, Heloisa e Heliane nasceram Minas Gerais e Heleusa e Edilce nasceram em Vitória da Conquista, Bahia. Protestante, membro fundador da 2ª Igreja Batista de Vitória da Conquista, poeta, orador e garimpeiro. Foi um médico muito competente e dentre os seus feitos na área da medicina destaca-se a autocirurgia de apêndice, realizada em 05 de fevereiro de 1942 na cidade de Patos, Minas Gerais.
Cada filha pode contar uma história diferente, mas Ubaldino, meu pai, era um homem que amava a sua família e a sua terra. Ubaldino era um brasileiro autentico e todos os seus traços revelavam a miscigenação do nosso povo. Moreno claro, cabelos pretos, crespos, (de escadinha, segundo mamãe), olhos esverdeados, estatura mediana, esbelto. Seu sorriso radiante mostrava dentes bonitos e fortes e sua voz, emocionada, ecoa em minhas lembranças nas canções Porta Aberta, Adios Pampa Mia, e nos hinos do Cantor Cristão. Ubaldino era dotado de uma inteligência excepcional. Protestante, batista, servo fiel à doutrina escolhida. A fé viva que tinha em Deus, o sustentou em toda a sua vida. Aventureiro, sonhador, garimpeiro não sabia que as esmeraldas, que procurou a vida toda, estavam em sua alma, pois sempre sentiu a vida como uma benção, uma dádiva. Ubaldino morreu no dia 14 de novembro de 1969, em São Paulo e está sepultado no cemitério do Shangrila, no distrito de Capinal.
Eu tinha vinte e cinco anos, quando meu pai morreu e até hoje, aos 70 anos, sinto um gosto de saudade das bênçãos que ele me desejava. Em todas as cartas que escreveu às suas filhas costumava usar como epígrafe a benção contida em seu versículo bíblico predileto que, ainda, me confere alegria pela positividade sugerida. Abençoar é um verbo transitivo que, dentre as suas acepções, significa proteger, fazer feliz, tornar próspero. O seu desejo era que a luminosidade divina resplandecesse em nossa face, como crença na potência existente em todo ser humano, de merecer a vida e poder usufruí-la em abundância e qualidade.
"O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e se compadeça de ti; o Senhor volva sobre ti o seu rosto e te dê a paz." Números; Cap.: 6, Vers.: 24, 25, 26.
Museu Literário Profa. Amélia Barreto de Souza.
Texto de Heleusa Câmara. Fevereiro de 2013.


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Resenha

RESENHA - Autocirurgia realizada pelo Doutor Ubaldino Gusmão Figueira


Em 05 de fevereiro de 1941, há 72 anos atrás, o médico conquistense Ubaldino Gusmão Figueira realizava uma autocirurgia de apêndice, na cidade de Patos, Minas Gerais.
Em março de 2012, o Jornal da Associação Médica de Patos de Minas destaca a autocirurgia realizada por Ubaldino Gusmão Figueira e apresenta fotografias no Centro de Memória que abriga diferentes objetos ligados à história da medicina.

(…) Chamou a atenção do presidente da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), o cirurgião geral e gastroenterologista Lincoln Lopes Ferreira, a imagem de uma autocirurgia de apêndice, realizada em 1941. De acordo com o coordenador do Centro de Memória, Giovanni Roncalli Caixeta Ribeiro, mudou-se para Patos de Minas um médico baiano chamado Ubaldino Gusmão Figueira, que abriu o primeiro hospital privado na cidade, naquele mesmo ano. Pouco tempo depois, teve uma apendicite e se auto-operou, auxiliado por outro colega médico (…)

De acordo com o coordenador do Centro de Memória, Patos de Minas é a quinta cidade a ter arquivos e equipamentos da área médica em uma espécie de museu. Os outros municípios que preservam a memória da medicina são Barbacena, Belo Horizonte, Juiz de Fora e Uberlândia. Ele diz que os alunos de medicina do Centro Universitário de Patos de Minas já utilizam o acervo para apresentarem trabalhos no Congresso de História de Medicina.

Nos arquivos da Profa. Heleusa Figueira Câmara encontra-se uma descrição do processo operatório, escrita por Ubaldino Gusmão Figueira em fins da década 1950, para Revista Manchete:

Tendo sofrido várias crises de apendicite e (…) Valendo-me da ausência de minha família, aproveitei o ensejo para executar meu intento. Convidei os amigos Cristiano Fonseca e João Pacheco Filho para assistirem à operação de um rapaz; qual não foi a surpresa daqueles amigos, quando me viram sobre a mesa da cirurgia, tendo a meu lado dois enfermeiros e o meu médico assistente, Dr. Paulo da Silva Loureiro. A princípio tomaram por brincadeira; porém, à medida que foram se sucedendo os passos para o ato operatório, concluíram que eu seria, de fato, o paciente e o agente daquela intervenção. Fiz sozinho, da anestesia local, à última fase da operação, ou seja, a sutura da pele. Um dos amigos fez questão de chamar o fotógrafo que bateu diversas chapas. Atualmente, resido em Vitória da Conquista, onde continuo à frente da Casa de Saúde mais antiga da cidade, servindo aos sertanejos como um modesto médico de aldeia. (Ubaldino Gusmão Figueira)

Uma descrição mais detalhada da autocirurgia feita por Ubaldino Gusmão Figueira é apresentada em 17.02.1943

(...)Fato singular, foi o de que o cirurgião só conseguiu ver nitidamente as incisões dos três primeiros planos: pele, tecido celular e aponevroso – a incisão dos demais se processou, mais pelo tato dos dedos, que pela vista, dada a impossibilidade de se curvar convenientemente, sobre a ferida operatória. Sob a ação da anestesia, local praticada com Sinalgan, pelo próprio cirurgião, plano sobre plano, á medida que progredia a intervenção, tudo transcorreu normalmente. Antes de proceder ao fechamento da parede abdominal com cat-gut Crino-Seda, o cirurgião derramou sobre a ferida operatória um tubo de Stopton Peritoneal. O pós operatório se passou sem acidente, usando o Dr. Ubaldino, durante o mesmo, uma ampola diária de Glicotrat. E assim o Dr. Ubaldino Figueira teve o prazer imenso de fazer, por suas próprias mãos, a anestesia e a própria operação, até a aplicação do último agrafe, conforme se vê numa das fotogravuras, passando-se, dessa forma, em pleno interior mineiro, um acontecimento impressionante, no terreno da cirurgia, que entusiasma, não só a classe médica como também ao público em geral.

É muito importante que os espaços acadêmicos cuidem dos acervos memorialísticos. O Curso de Medicina da UESB poderia organizar um espaço museal com documentos pertencentes as famílias de pessoas que exerceram a medicina nesta cidade.


Turma de Formandos de 1932 da Faculdade de Medicina da UFMG - Ubaldino Gusmao Figueira (Da esquerda para direita, em pé, 2ª fila, 10º formando)
Acervo Família Heleusa Figueira Camara
Autocirurgia Apendicite Ubaldino Gusmao Figueira - 1942 - Patos MG - 00
Acervo Família Heleusa Figueira Camara

Autocirurgia Apendicite Ubaldino Gusmao Figueira - 1942 - Patos MG - 00
Acervo Família Heleusa Figueira Camara


Jornal Estado de Minas -17/02/1943 Autocirurgia Apendicite Ubaldino Gusmao Figueira

Acervo Família Heleusa Figueira Camara

Raríssima ocorrência, no campo da cirurgia, verificada  em Patos.
Um médico mineiro operou-se de apendicite por suas próprias mãos – A intervenção correu normalmente e apresentou bom resultado – Detalhes sobre o caso.

Flagrante do sensacional ato operatório: na primeira foto, o início da operação: a incisão da pele; a seguir, o apêndice livre já de aderências e preso pela pinça, é seccionado. Finalmente a sutura com os agrafes.No campo da cirurgia, inúmeros  teve o prazer imenso de fazer, por suas surpreendentes casos são registrados e nos quais se revela o progresso da técnica operatória. Sutilezas e finuras na “área de cortar” marcam novas e esplêndidas etapas na tarefa difícil e amplamente benéfica ao ser humano. A habilidade de certos cirurgiões vai atingindo etapas elevadíssimas nesse importante ramo da medicina. Mas, se a técnica apurada de alguns médicos chega a alcançar a admiração – quando a sua atividade se exerce em pacientes a eles submetidos – maior admiração causa a intervenção (raríssimas vezes feita) dos cirurgiões em si próprios.
E é, agora, uma operação desta natureza que temos a registrar. Quando não seja inédita e original é, pelo menos, raríssima e tem a assiná-la aspectos singularíssimos.
EM PATOS
O fato ocorreu, há dias, em Patos, na “Casa de Saúde Miguel Couto”, quando o seu diretor Dr. Ubaldino Gusmão Figueira foi, ao mesmo tempo, paciente e operador.
Há cerca de seis meses a esta data vinha o cirurgião notando sintomas de apendicite.
E, há pouco, realizou ele, (como o auxílio do Dr. Paulo Correia da Silva Loureiro, ex-interno do prof. Fernando Magalhães, no Rio), a primeira operação “cesariana” naquela cidade, causando o fato os mais variados comentários de alguns pessimistas quanto ao sucesso do resultado operatório. Em face desses comentários, que ele reputava como objetivando abalar o seu prestígio profissional, o Dr. Ubaldino Gusmão Figueira, num gesto de desafio àquela campanha que pretendia fazer periclitar seu conceito tantas vezes postos à prova de centenas de operações, feitas anteriormente, com sucesso, decidiu operar o seu apêndice, por suas próprias mãos! Um sério obstáculo a isto seria sua esposa que, se o soubesse, não o consentiria, em absoluto. Resolvendo esta fazer uma visita aos pais que residem na capital, o cirurgião julgou oportuno levar a cabo sua delicada tarefa.
Tendo sua esposa viajado dia quatro deste, o médico deliberou operar-se no dia imediato, o que de fato aconteceu.
A OPERAÇÃO “SUI GENERIS”
(o original do jornal foi danificado fisicamente neste pedaço)
… Paulo Correia. Tudo combinado, no momento da operação, quis o Dr. Ubaldino ter perto de si alguns amigos mais íntimos. Assim compareceram, a seu convite, o farmacêutico Cristiano José da Fonseca, o guarda-livros João Pacheco Filho e o fotógrafo Jorge Neto, cuja esposa se achava operada na Casa de Saúde. Estes amigos só vieram a saber que se tratava de uma apendicectomia a que ia se submeter o Dr. Ubaldino Figueira, por suas próprias mãos, quando penetraram na sala de cirurgia e foram surpreendidos pelo cirurgião que tomava posição sobre a mesa de operação. Por sugestão dos presentes, o Sr. Jorge Neto bateu algumas chapas, no transcorrer das várias etapas da operação. Feita a anestesia regional, após a preparação do campo operatório, todos os lances da intervenção transcorreram normalmente.
Desta forma, o Dr. Ubaldino Figueira teve o prazer imenso de fazer por suas próprias mãos, a anestesia e toda a operação, até a aplicação do último agrafe, conforme se vê numa das fotografias. E, assim, se passou  em pleno interior mineiro um acontecimento impressionante no terreno da cirurgia que entusiasma, não só a classe médica como também ao público em geral.
17.02.1943

 Jornal Diario da Bahia -17/03/1943 Autocirurgia Apendicite Ubaldino Gusmao Figueira
Acervo Família Heleusa Figueira Camara

OPEROU-SE DE APENDICITE COM AS PRÓPRIAS MÃOS!
Sensacional prova de um médico para demonstrar a sua competência profissional – Seis dias depois passeou pela cidade de Patos.
PATOS Minas, (Serviço especial do “DIÁRIO DA BAHIA”) – Esta cidade acaba de apresentar um fato sensacional no vastíssimo  e complicado terreno da cirurgia: o médico o Dr. Ubaldino Gusmão Figueira, diretor da Casa de Saúde Miguel Couto, acaba de livrar-se de uma inflamação no apêndice, operando-se com grande êxito, com as suas próprias mãos!
O Dr. Ubaldino resolveu praticar em si próprio a tão melindrosa operação não só para provar publicamente a sua competência, como também para desfazer uma campanha de descrédito que vinha sendo feita em volta do seu nome motivada por uma intervenção cesariana sobre a qual se fizeram comentários desairosos, embora tanto a operada como a sua filha tivessem sido salvas e estarem atualmente gozando perfeita saúde.
Aquele clínico, entretanto, que vinha de há tempos sentindo agravar-se a inflamação do seu apêndice, deliberou, então, realizar a difícil prova. Preparou tudo dentro do maior sigilo, e aproveitando a viagem de sua esposa, em visita aos pais em Belo Horizonte, convidou o seu assistente Dr. Paulo Correia da Silva Loureiro para auxiliá-lo e, como testemunhas, o farmacêutico Cristiano José da Fonseca, o guarda-livros João Pacheco Filho e o fotógrafo Jorge Neto, cuja esposa estava internada naquela casa de saúde.
Temeroso de que seus colegas e outros amigos tentassem impedi-lo de realizar a “auto-operação”, Dr. Ubaldino recolheu-se a sala de operações, sendo que os convidados só tiveram conhecimento do que iam presenciar quando viram o operador se transformar em paciente e principiar o trabalho de anestesia local!
Iniciou-se então, diante dos olhos atônitos dos assistentes, a grande operação. Sem poder curvar-se sobre o campo operatório, trabalhando quase que exclusivamente pelo tato, o Dr. Ubaldino, como se os seus nervos fossem de aço, realizou todas as fases da operação, até colocar o último ponto na incisão aberta! Calmo, revelando o mais absoluto controle sobre si mesmo, ao tempo que se operava, conversava com os seus assistentes e com os convidados!
Durante a operação, o fotógrafo José Neto bateu diversas chapas, documentando o fato, sendo que os convidados, a pedido do operado, não puseram as máscaras - falta imperdoável em qualquer ato operatório - afim de poderem ser identificados com facilidade e transformarem assim as fotografias em provas reais.
No sexto dia após a operação o Dr. Ubaldino passeou pela cidade. No dia seguinte foi ao cinema e no oitavo dia, pela manhã, operou um cliente  e à noite foi à uma festa.
O sucesso do Dr. Ubaldino Gusmão torna-se ainda mais impressionante, considerando que o seu caso é o segundo registrado  no mundo. Operação idêntica, e revelada ao mundo, só temos conhecimento da praticada pelo prof. Karl Bier, de Berlim.
Diário da Bahia, 16.03.1943.

Um comentário:

  1. me lembro dele, pessoa muito boa, todas as quintas feira fazia as suas pregacoes no bairro jurema, em frente a serraria , com o seu jipe capota de aco, tocava uns hinos maravilhosos.

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